A casa era uma da mais antigas e tradicionais da cidade do Rio de Janeiro.A falência do Bar Luiz, decretada pela Justiça, deixou os amantes da boemia tristes. Considerado um dos mais importantes ícones do Centro do Rio, o local, que durante 135 anos, serviu um dos chopes mais gelados da cidade e deliciosos pratos típicos alemães, como o kassler (bisteca de porco defumada), ficará guardado na memória de uma legião de apaixonados. Desde 2020, a casa estava afundada em dívidas e em processo de recuperação judicial.
O músico e compositor Moacyr Luz lamentou profundamente a notícia e disse estar preocupado com o futuro dos estabelecimentos no Centro. "Quando fecha um bar, um pedaço da história da gente também fecha. Eu frequentei muito o Bar Luiz, conheci o João Nogueira lá dentro. Frequentava lá com o Chico Caruso, o Sérgio Cabral, pai, o Martinho da Vila e muitos outros amigos. Então, cabe até nota de falecimento. Eu já tentei de tudo, falei com a dona de lá e com os donos de outros bares, mas não tinha o que fazer, a dívida é muito grande. É triste ver mais um patrimônio da cidade, caindo igual ao Palácio Monroe", desabafou Moa, como é mais conhecido, fazendo referência a antiga sede do Senado Federal, demolida em 1976, para as obras do metrô, na Cinelândia.
"Olha, na verdade, a Rua da Carioca, que foi uma rua de tantas lojas e bares importantes, o Centro do Rio, lugar histórico, está tudo abandonado. O Rio de Janeiro inteiro está fechado, a cidade depois da pandemia virou uma cidade fantasma, então é uma questão muito ampla. A cidade precisa reagir, não sei como. Não sou especialista, sou só compositor, mas tenho feito minha parte, inclusive tocando no Amarelinho, que estava fechado e foi salvo por um empresário dono de outro bar, que entrou com dinheiro. Olha como está o movimento no Málaga, no Villarino, onde começou a parceria entre Vinícius de Moraes e Tom Jobim, no Paladino e muitos outros. Estão todos entregues", analisou o compositor.
Para o presidente do Cordão da Bola Preta, Pedro Ernesto Marinho, a cidade perde muito com o fechamento. "Isso me entristece muito, por conta do Bar Luiz representar efetivamente a Cidade Maravilhosa e o modo de ser do carioca. Vai ficar uma lacuna muito grande se não houver uma reversão nessa decisão. É muito triste para a cidade. O Rio de Janeiro precisa valorizar a sua tradição, a sua história, através da cultura.
Alguma coisa precisa ser feita, não sei por quem, mas o Rio precisa de mudanças e investimento para não permitir que isso aconteça. A gente fica preocupado quando vê um bar dessa importância fechar e percebe que já está acontecendo com outros. Então, tomara que alguém se interesse em reabrir o Bar Luiz. Não sei se seria possível reabrir na Rua da Carioca porque ali virou um lugar fantasma, as lojas estão praticamente todas fechadas e aquele local virou uma rua de passagem de pessoas, somente. É lamentável, o Rio de Janeiro não merece perder o Bar Luiz, como não merece perder nenhuma de suas tradições", opinou o presidente do bloco.
"O Bar Luiz tem um espaço muito grande no coração, não só meu, mas no Cordão da Bola Preta. Vivi momento maravilhosos lá. Tinha um chope de qualidade, aquela famosa salada de batatas, o joelho, enfim... Mas, particularmente, a principal ida era no sábado de carnaval, que o Bola Preta, até o final da década de 1990, tinha como parte roteiro do desfile de sábado, a ida a Rua da Carioca. Era infalível, todos os anos, irmos ao Bar Luiz para almoçar, onde revíamos amigos que não podíamos encontrar durante o ano, até porque muitos não moravam mais aqui e vinham justamente ao Bola Preta, no sábado de carnaval, e participavam da confraternização no Bar Luiz", relatou o dirigente.