Às vésperas da festa “Da Aquarius a Acrópole” (que vai bombar o Praia Clube São Francisco no dia 3 de junho), convidamos um dos DJs niteroienses que mais sucesso fez nas principais casas da cidade, o “DJ Fernando Figueiredo”, ou DJ Fernandinho como era conhecido em épocas passadas, pra um bate papo conosco, aonde além de relembrar bons momentos de uma era mágica, irá traçar uma comparação entre a música dos anos 80 e 90 com a atual.
Agito: Você trabalhou em quais boates nas décadas de 80 e 90?
DJ Fernando Figueiredo: Comecei a tocar em 1978, e em 1982 iniciei como DJ de boates.
Nos anos 80 fui DJ da Tubarão (Piratininga), Gandaia (Piratininga), Castelinho (Gragoatá), Blow Up (Piratininga), Aquarius (Itaipu) e nos anos 90 da Scaffo (Clube Naval/Charitas), “Calígula” (Búzios), “Acrópole” (São Francisco), “República da Banana” (Pendotiba), “Mostarda” (Lagoa/Rio).
Agito: Quais as diferenças entre tocar naquela época e hoje em dia?
DJ Fernando Figueiredo: Muitas! A começar pela parte tecnológica.
Quando comecei nos anos 70 (fazendo festas particulares), usava o toca-discos e o melhor de todas as “mídias”, o disco de vinil.
Para fazer uma única festa era necessário carregar muitos discos, em várias caixas de engradado. Assim foi durante toda a década de 80.
A partir de 1994, além dos discos de vinil, eu passei a usar CDs.
Em 1998, abandonei definitivamente os discos de vinil e fiquei só nos CDs.
Mais a frente, em 2010, eu migrei dos CDs para os arquivos de MP3, que são usados pela grande maioria dos DJs até hoje, através de equipamentos e softwares dedicados e especializados para DJs.
Outra diferença era o acesso e o tempo que uma música durava.
Nos anos 80, os discos demoravam a serem lançados aqui no Brasil, e não era fácil conseguir os que saiam lá fora, bem como ter acesso a revistas especializadas, como a “Rolling Stones” ou “Billboard”, aonde vinha o top 100, de todas as partes do mundo, toda semana.
Nós DJs, éramos responsáveis em lançar e apresentar as novidades musicais às pessoas que frequentavam a boate, boa parte dessas músicas se tornariam “hits” posteriormente. E muitas pessoas só escutavam essas músicas, ali na boate, e só depois de algum tempo essas músicas iam tocar na rádio.
Essas músicas duravam meses no topo das paradas, até mesmo anos.
Hoje temos a internet, o MP3 e o “streaming”, onde tudo é muito rápido, praticamente imediato, levando qualquer música em qualquer lugar, numa quantidade absurda, onde a música dura algumas semanas na parada, e poucos e bons “hits” permanecem.
As boates praticamente acabaram, e as baladas (festas) mais jovens são comandadas pelos DJs que tocam os “hits” que estão no top 50 da plataforma de “streaming”, ou a dancinha de alguma rede social.
Agito: Como era tocar na Acrópole?
DJ Fernando Figueiredo: A Acrópole foi uma casa muito importante em Niterói.
Ali frequentavam muitas pessoas importantes da cidade e eu tive a oportunidade de conhecer muitas delas, que tenho amizade até hoje.
Musicalmente também foi uma época muito boa, com músicas de qualidade.
A casa abria às 22h, até a meia noite tinha fila na porta, e eu tocava até as 5h da manhã, pelo menos.
Os “meninos” (maneira carinhosa de chamá-los, porque na época eram muito jovens) e queridos Ricardo Guinâncio, Oscar Motta e Carlos Augusto souberam administrar a casa com muito zelo e sabedoria, por muitos anos. E mesmo eu já trabalhando em outras casas, ainda frequentava a Acrópole sempre que podia.
Agito: Roupa social e sapato eram exigências para se entrar nas casas?
DJ Fernando Figueiredo: Na Acrópole era exigida a entrada com roupa social e sapato. Essa prática era costume em várias casas da época.
Em algumas boates, era permitida somente a entrada de casais, além do vestuário.
Sei que em outras casas, além do vestuário, tinha a questão do estilo da pessoa e o RP tinha que identificar se aquela pessoa batia com o estilo que a casa ditava. Algumas boates como a “Aquarius” (Itaipu) distribuíam uma espécie de pré-ingresso para que fosse permitida a compra da entrada e não era todo mundo que ganhava.
Agito: Personalidades e famosos faziam parte do cotidiano da Acrópole?
DJ Fernando Figueiredo: A Acrópole foi frequentada por muita gente bonita, famosa e importante de Niterói e do Rio.
Lembro-me das festas de agências de modelos, como a “Ford Models” e “Elite”.
Muitos modelos que embelezaram a pista lotada, depois se tornaram famosos, como a Babi Xavier, entre outros.
Essas festas eram badaladíssimas e concorridas. O estilo musical que predominava era o “House Music”.
Sobre outras boates, me lembro bem da matinê da “Scaffo” (1990), onde costumavam ir o querido e saudoso Paulo Gustavo, também o André Marques e a Natália Laje. Todos muito novos, com os seus 13/14 anos.
Agito: Qual a diferença da música dos anos 80 e 90 para a dos dias atuais?
DJ Fernando Figueiredo: Sou apaixonado por música, de todas as épocas.
Fui criado escutando “Glenn Miller”, “Sinatra”, “Ray Conniff”, “Nat King Cole” (por meu pai), tal como “Tom Jobim”, “Maria Bethânia”, “Roberto Carlos”, “Chico Buarque”, (pela minha mãe), entre outros.
Porém, como DJ vivi o final dos anos 70!
Tocava o estilo “Disco” nas festas e boates, escutava a Rádio Cidade FM e em toda a década de 80, além de DJ, fui protagonista, onde, em minha opinião, foram os melhores anos pra música, sem dúvida.
Com muita variedade de estilos e artistas, nos anos 80 tinha o “boogie”, o “pop dance”, o “pop rock gringo”, o “new wave”, o “punk rock”, o “rock BR” e ainda o “house music” e tudo isso tocava nas boates da época.
Nos anos 90, acho que essa diversificação diminuiu um pouco, e foi diminuindo até hoje. Principalmente os artistas de “rock”.
Hoje, em minha opinião, o que faz sucesso, na sua grande maioria, não tem qualidade.
Faz sucesso porque é apelativo, vulgar e de fácil assimilação.
Existem raríssimas boas exceções de artistas que fazem “hits” como: Coldplay, Maroon 5, Bruno Mars, Beyoncé, etc.
Fora os artistas que não se tornam “hits”, porém de altíssima qualidade como: Caro Emerald, Dionne Bromfield, Gramatik, Tuxedo, entre muitos outros novos artistas talentosos.
Agito: Qual a diferença desse tipo de festa para outras festas temáticas dos anos 80, tipo a festa Ploc?
DJ Fernando Figueiredo: As festas denominadas “Ploc” são festas direcionadas a músicas ou artistas considerados “bregas” daquela época (anos 70 e 80), como Wando, Magal, Gretchen, Silvinho (Absyntho), Rosana, entre outros. E essas músicas não eram tocadas em nenhuma boate, pelo menos as da Zona Sul que trabalhei.
Já a festa “Da Aquarius a Acrópole”, irá abordar especificamente a temática e o repertório que tocava nessa época nas diversas boates de Niterói, ou seja, vai rolar pop, rock, new wave, rock BR e dance dos anos 80 e 90 respectivamente.
Agito: Como será tocar na festa "Da Aquarius a Acrópole" e quais sons vão rolar?
DJ Fernando Figueiredo: Será muito prazeroso! Não só por ter tocado e estar representando essas boates, mas por ser um repertório maravilhoso, que vai nos permitir reviver essa época tão incrível. Quanto aos sons, vou passear pelos “hits” de todas as casas que trabalhei nos anos 80 e 90.
Sobre a festa “Da Aquarius a Acrópole”
Com o objetivo de reviver os grandes momentos das décadas de 80 e 90, o produtor de eventos Paulinho Netherlland, conhecido por ter levado durante muitos anos milhares de jovens a festas, shows, micaretas, carnavais fora de época e réveillons por todo o Brasil, está voltando ao mercado do entretenimento.
Com um novo conceito de celebração, o produtor quer transformar Niterói em uma referência de experiências nostálgicas, trazendo de volta marcas, personalidades e eventos que foram sucesso no passado!
Uma época em que, paralelamente às múltiplas opções de noitada, tínhamos também em Niterói, a Fluminense FM, lançando praticamente todas as bandas do rock nacional no dial 94,9.
A Niterói dos anos 80 e 90 era referência cultural e fervia, literalmente.
E é esse o clima que iremos encontrar em nossas próximas edições.
O lançamento será no dia 3 de junho, quando o Praia Clube São Francisco será transportado para os anos 80 e 90, levando essa galera a se sentir nas boates que marcaram suas vidas.
Além da presença dos donos, promotores e barmans de diversas casas na época, o evento contará com DJs que tocaram nessas boates e serão convidados em todas as edições para comandar as carrapetas e colocar todos pra dançar com as músicas que marcaram essa geração.
Pra deixar o clima ainda mais autêntico, os RPs da época irão receber os convidados, como faziam com maestria: Tony da boate Bedrock, Raquel da Madame Kaos, Charles da Boate Aquarius, Patrícia e Adriana do Le Village e Nogueira da Boate Acrópole.
Os convites do lançamento do projeto “Da Aquarius à Acrópole” estão esgotados faz tempo, mas fiquem tranqüilos, pois assim que a segunda edição da festa sair vamos divulgar aqui no site do Jornal Agito.