Cacau Show: escândalo revela clima de pressão, retaliação e censura

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Franqueados da maior rede de chocolates do Brasil relatam dívidas, adoecimento e práticas abusivas. Segundo relatos, quem questiona ou demonstra pouco entusiasmo pelas práticas da empresa corre risco de perseguição profissional. As informações foram apuradas em uma reportagem do portal Metrópoles, que reuniu relatos de empresários da base da operação.
Para muitos empreendedores, abrir uma franquia de uma marca consolidada parece ser o caminho para realizar um sonho. No caso da Cacau Show, maior rede de franquias de chocolates do país, essa promessa tem se transformado em angústia, dívidas impagáveis e sérios impactos na saúde física e mental dos franqueados.
Uma ex-franqueada, que preferiu não se identificar, resumiu sua experiência dizendo:
"Me prometeram um caminho de sucesso. Hoje, estou emocionalmente devastada." Ela relata dívidas superiores a R$ 750 mil e crises de pânico recorrentes desde que ingressou na rede.
A rede conta com mais de 4 mil lojas franqueadas, eventos grandiosos com discursos emocionados e uma figura centralizada no comando. Contudo, por trás dessa narrativa de sucesso, há denúncias de práticas abusivas, perseguição institucionalizada e um ambiente corporativo onde questionamentos são silenciados.
De acordo com os entrevistados, os eventos promovidos pela franqueadora seguem um padrão conhecido: música alta, palcos iluminados, discursos sobre persistência e superação, tudo embalado por uma narrativa de pertencimento e gratidão à marca. No entanto, há uma ausência total de espaço para discutir temas delicados, como reajustes de preços, cláusulas contratuais ou a qualidade do fornecimento de produtos.
Grande parte desses encontros é liderada por Alexandre Tadeu da Costa, conhecido como Alê Costa, fundador e CEO da Cacau Show. Carismático e presente nas campanhas institucionais, ele conduz momentos que, segundo os franqueados, beiram o devocional. Relatos indicam que críticas ou tentativas de diálogo são punidas, muitas vezes com a entrega de produtos próximos ao vencimento ou com baixa saída no mercado, dificultando o giro das lojas e prejudicando financeiramente os operadores.
Essa situação frequentemente leva ao fechamento de unidades. E, quando a insatisfação leva a ações judiciais, a resposta da empresa costuma ser ainda mais severa. Um processo na 25ª Vara Cível de Brasília revela que a Cacau Show retira o crédito de franqueados que entram na Justiça, obrigando-os a comprar produtos à vista. O juiz Julio Roberto dos Reis afirmou que essa prática viola a liberdade profissional e configura revanchismo, ao usar o controle logístico como forma de punição.
A reportagem também destaca a criação de uma página nas redes sociais por uma franqueada que, temendo retaliações, atua sob pseudônimo. A conta, chamada “Doce Amargura”, reúne denúncias de outros empresários da rede. Ela conta que, após seus relatos, foi visitada pelo vice-presidente da Cacau Show, Túlio Freitas, que percorreu mais de 600 km até sua loja no interior de São Paulo. Segundo ela, Freitas perguntou “o que era preciso” para que ela parasse de publicar as denúncias. Atualmente, ela busca rescindir judicialmente seu contrato com a empresa.
A Cacau Show, procurada pelo portal, afirmou que “não reconhece as alegações apresentadas pelo perfil Doce Amargura” e declarou manter relações baseadas em “confiança mútua, respeito e diálogo”. Sobre a visita do vice-presidente, a empresa afirmou que essa prática faz parte da rotina.